Aluguel mais baixo, mas nem tanto
09/04/2018 - Notícias do Grupo
O preço do aluguel está sendo ajustado, após a super alta há dois anos - Analice Paron / Agência O Globo
Volta e meia, algum índice aponta que os valores do aluguel despencaram no Rio. Na prática porém, inquilinos reclamam que a queda não é tão significativa, nem comum. Os proprietários, por sua vez, afirmam que já fizeram muitas concessões. Para quem está neste mercado, o que vem ocorrendo não é exatamente uma baixa, mas sim o fim dos preços exorbitantes praticados até 2016, quando o Rio era a menina dos olhos do Brasil.
Dados do Sindicato da Habitação (Secovi), levantados a pedido do Morar Bem, mostram que, de 2012 a 2015 (período do maior boom imobiliário no Rio), o valor médio do metro quadrado na cidade passou dos R$ 35,56 para R$ 38,38 — um aumento de 7,9%.
Entre os bairros que mais tiveram alta neste período estão Jacarepaguá (54,2%), Copacabana (30,4%) e Tijuca (28,3%).
Já de 2015 a 2018, momento entre o boom e o pior da crise, a queda foi de 22,7%. Neste momento, os bairros que mais sentiram o tombo foram: Lagoa (-31,3%), Copacabana (-27,7%), Flamengo (-26,2%) e Ipanema (-24,7%).
A agente de atendimento de aeroporto, Gisele Machado, passou por todas estas etapas. Em 2009, quando se mudou para seu atual apartamento de três quartos em Jacarepaguá, pagava R$ 1.400 de aluguel. Depois foi subindo, subindo, até R$ 2.800, quando ela tentou negociar.
— Nos primeiros anos, tivemos o reajuste anual comum. Mas, há uns três anos, o proprietário quis um aumento maior, de uns R$ 500. Ele não justificou, disse apenas que o que cobrava estava fora do mercado. Achamos aquele valor indevido e passamos a procurar outro imóvel com calma — conta Gisele, que está encaixotando sua mudança para outro imóvel, no mesmo bairro, com um aluguel mais barato.
— Eu fiquei surpresa porque eles não fez nenhum esforço para nos manter. Dissemos que íamos entregar e ficou por isso mesmo. Sempre fomos bons inquilinos, pagávamos em dia e nunca demos problema. É como se realmente não precisasse do aluguel. Não houve diálogo nem no aumento, nem na desistência — conta.
NÃO CAI MAIS?
Para Jacyr Tavares, presidente da JTavares, os preços baixaram lá atrás e agora estão estáveis — e assim devem continuar. Até porque, diz, o cenário é outro: a liquidez aumentou e já não há tantas ofertas quanto em 2017.
— Até 2016, os preços subiram exageradamente, uns 30%, regulados pelo próprio mercado. Em 2016 e 2017, o mercado apresentou uma queda bem acentuada, por conta do esvaziamento do Rio, decorrente da saída de várias empresas, principalmente da área petrolífera. Com isso, houve um aumento de oferta e queda de preço. Assim, fechamos o ano passado com uma queda de 10% mais ou menos. Se somar isso a 2016, foi uma queda no valor do aluguel de uns 20% nos últimos dois anos. Não vai cair mais que isso, nem aumentar, apenas acompanhar a inflação.
Amauri Soares, gerente de locação da Cipa, também pondera que num momento de crise houve mais negociações.
— Para os imóveis alugados no primeiro semestre de 2017, houve uma incidência maior de negociação por causa do grande número de ofertas, algo em torno de 10%. Em Botafogo, por exemplo, a redução foi de R$ 1.200 para R$ 1.100, ou até para R$ 1 mil. Hoje os preços ainda diminuem, mas, especialmente, para aqueles imóveis com demora na locação. Mostramos a realidade ao dono, mas alguns ainda relutam em baixar o valor.
HÁ OUTRAS FORMAS DE NEGOCIAÇÃO ALÉM DO PREÇO
Nem sempre o acordo se dá por meio do valor pago. Na tentativa de ajustar e ficar bom para todo mundo, a solução, muitas vezes, se dá por outros caminhos.
— Alguns de nossos clientes alugam seus imóveis com a opção de compra, aproveitando como entrada todos os pagamentos realizados referentes ao período de aluguel. Outra opção que temos observado é a carência de alguns meses, geralmente três meses, principalmente em se tratando de salas comerciais — conta Márcio Cardoso, presidente da Sawala Imobiliária.
Cardoso diz que os proprietários foram obrigados a acompanhar o mercado e, com isso, a reavaliar os valores que cobravam para pôr os imóveis em ponto de liquidez.
— Isso porque a concorrência está muito grande. No quesito garantia locatícia, os locadores não querem correr riscos com os inquilinos e a figura do fiador está cada vez mais difícil de se conseguir — diz.
Segundo Sonia Chalfin, diretora da Precisão Administradora, os proprietários têm dado descontos, porém temporários, pois estão na esperança que o mercado, em breve, melhore.
— Os valores dos imóveis passaram a ser realinhados em patamares mais baixos, obedecendo o bom senso a fim de manter o inquilino no imóvel. Mais vale um bom inquilino pagando menos do que você gostaria de receber, do que um mau inquilino que até aceite o valor que você está pedindo, mas que poderá causar problemas de inadimplência no pagamento dos aluguéis ou desleixo na manutenção do imóvel — destaca ela, que reforça — Se você já tem um inquilino que se consagrou pela pontualidade nos compromissos e pelo zelo com o seu imóvel, mantenha-o. Procure sempre ser flexível nas suas negociações, a fim de conservar o que está vivo e palpável.
PODER DE BARGANHA
Segundo Sonia, esta é uma época muito favorável para quem quer alugar um imóvel, pois o mercado virou, levando a um poder de barganha maior.
Com a queda da renda nos últimos três anos, muitas pessoas tiveram que voltar a morar com familiares, ou procurar imóveis de valores menores.
— Enquanto as pessoas estão deixando de procurar imóveis para alugar, a disponibilidade de apartamentos para locação cresceu, portanto, os investidores, que anteriormente, compraram imóveis, botaram para alugar, crescendo com isso a oferta.
/ fonte: O Globo